sábado, 4 de abril de 2015

Sábado Santo

Dos Sermões de São Germano de Constantinopla, bispo.
A vitória única de Jesus é a salvação para aqueles que, por causa das faltas cometidas, se haviam afastado dele.

            O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu (Is 9, 1).

            Vendo o tirano ferido de morte, volta das trevas para a luz; da morte passa para a vida. A vitória única de Jesus é a salvação para aqueles que, por causa das faltas cometidas, se haviam afastado dele. O madeiro da cruz carrega aquele que criou o universo. Aquele que está pregado nesse madeiro é o mesmo que o patriarca Jacó vira no cimo da escada. Padecendo a morte para me dar a vida, foi pregado no madeiro como um morto aquele que carrega o universo; contendo em si a Divindade, expira no madeiro aquele que sopra a vida aos mortos.

            A cruz não o envergonha, mas como um troféu atesta sua vitória completa. Como justo juiz (Sl 9, 5), ele se senta no trono da cruz, condenando a morte iníqua. A coroa de espinhos que traz sobre a fronte confirma sua vitória: Tende coragem! Eu venci o mundo (Jo 16, 33) e o chefe deste mundo, carregando o pecado do mundo.

            Essa vitória de Cristo passa para toda a humanidade, da qual ele assumiu as primícias. Que a cruz seja um triunfo, as próprias pedras clamam, essas pedras do Calvário onde, segundo uma antiga tradição dos Pais, foi enterrado Adão, nosso primeiro pai. Essa tradição manifesta que Adão foi a causa da vinda do Senhor sobre a terra, que todo o mistério de humilhação tinha em vista seu chamado e sua salvação. Tudo isso tinha como finalidade a libertação de Adão e, por motivo, o amor que seu Criador lhe dedicava.

            Adão, onde estás? (cf. Gn 2, 9), clama novamente Cristo na cruz. Eu vim a tua procura e, para poder te encontrar, estendi as mãos sobre a cruz. Com as mãos estendidas, eu me volto para o Pai a fim de dar graças por ter-te encontrado. Depois me volto também para ti a fim de te abraçar. Eu não vim para julgar teu pecado, mas para te salvar em meu amor pelos homens; eu não vim te maldizer por tua desobediência, mas te abençoar por minha obediência. Eu te protegerei com minhas asas e tu encontrarás refúgio em minha sombra. Minha fidelidade te defenderá com o escudo da cruz e tu não temerás terror algum durante a noite (cf. Sl 90 [91], 4-6), pois conhecerás o dia sem declínio. Eu procurarei tua vida, escondida entre as trevas e na sombra da morte (Lc 1, 79) e não descansarei até que, humilhado e tendo descido até a mansão dos mortos para te procurar, te tenha reconduzido ao céu. 

Sermo in Dominici Corporis Sepulturam
(Patrologia Grega 98, 254-255.258-259)

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