segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Museu de Arte Sacra assinala com visitas guiadas de 18 a 21 de Outubro - o Dia dos Bens Culturais da Igreja - (Portugal)


Foto Rui Marote

O Museu de Arte Sacra do Funchal, depositário de uma valiosa colecção de pintura flamenga, entre outras peças importantes, vai apresentar, de 18 a 21 de Outubro, um programa que vai ao encontro do estabelecido pela Conferência Episcopal Portuguesa: a instituição do 18 de Outubro como Dia dos Bens Culturais da Igreja.

O Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja ampliou, inclusive, a comemoração da efeméride a toda a semana, endereçando um convite às dioceses e respectivos museus para apresentarem um programa que, em todo o país, se prolonga de 17 a 23 do corrente mês. O tema geral é “(Re)ver a Arte Cristã”. A proposta é lançar “(…) um novo olhar sobre a arte religiosa, enquanto expressão do culto e integrada no âmbito litúrgico para o qual foi concebida”.



“Descodificando a mensagem intrínseca em cada obra, para além da análise material, oferece-se uma abordagem contextualizada, radicada na própria essência da experiência religiosa e inserida num mais amplo programa de comunicação, em particular, através da interpretação iconográfica, como factor valorativo e enriquecedor da visita a um templo católico.” É este o desafio. E, na sua sequência, o Museu de Arte Sacra do Funchal pretende conjugar o tema geral proposto com o tema da Misericórdia, cujo Ano jubilar agora se encerra.

“Procura-se, com efeito, através de múltiplos diálogos que se encetam entre o museu, as instituições e os públicos, convocar novos olhares e enquadramentos do património cultural e artístico de matriz cristã, pondo-o em evidência enquanto testemunho da expressão do culto e da fé. A activação semântica do património artístico religioso faz-se numa abordagem que põe em evidência a função pastoral dos bens culturais da igreja, ao mesmo tempo que o enquadra do ponto de vista da cultura e das artes, também no sentido de mediar uma mensagem para o grande público”, referem os responsáveis por aquela instituição.

Aos museus da Igreja está incumbida, também, uma missão pastoral, que decorre da matriz cristã que está na base de inspiração dessas obras, assim como na sua origem, proveniência e contexto funcional (a pregação, a liturgia, etc.). A arte religiosa procura ser a expressão artística das diferentes temáticas propostas à fé cristã pela evangelização e pelos textos bíblicos, sendo a obra de arte uma mediação estética e um suporte visível na aproximação crente ao Invisível. A Igreja sabe e propõe que a cultura seja uma mediação activa da nova evangelização, uma via de acesso à “mentalidade” contemporânea, explica a informação que nos foi disponibilizada.

“Assim, no que respeita a esta iniciativa do Museu de Arte Sacra, procurou-se, em simultâneo com a “re-visão” da arte cristã, buscar um novo enquadramento para a intervenção: ao nos aproximarmos do encerramento do Ano da Misericórdia, quisemos tomar este tópico tão significativo como orientação para o desenho do conjunto de acções a realizar”, explica João Henrique Silva, director do Museu.Pormenor do livro de Compromisso da Confraria da Misericórdia da cidade de Lisboa de 20 de dezembro de 1516.

O programa inicia-se no dia 18, quando, entre as 15 e as 16 horas, será realizada uma visita guiada destinada ao público em geral, intitulada “O Espólio da Misericórdia do Funchal: da capela de S. Luís de Tolosa à colecção de Arte Portuguesa no 1ºandar”. A mesma será orientada por Elisa Vasconcelos e Martinho Mendes. Este é, segundo nos informam, um percurso de observação e diálogo que articula a capela ao primeiro andar do museu. Abordar-se-ão aspectos que interligam a história da Capela de São Luís de Tolosa (fundação, arquitectura e evocação) e as diferentes tipologias de objectos de arte sacra provenientes da Misericórdia do Funchal (pintura, ourivesaria, escultura, documentos gráficos) expostos, na sua grande maioria, neste local, desde 2008.

Entretanto, das 16 às 17 horas, o tempo será preenchido com uma palestra do bispo emérito do Funchal, D. Teodoro de Faria, intitulada “São Lucas – O Evangelista da Misericórdia”, na Sala do Encontro de Culturas, no 1º andar.
Trata-se de uma evocação de São Lucas no dia em que é celebrado pelo calendário católico, analisando as suas narrativas em relação ao sentido da Misericórdia. Podem inscrever-se nestas acções todos os interessados através do endereço electrónico info@museuartesacrafunchal.org, ou pelo telefone 291228 900.São Luís de Tolosa Oficina portuguesa Segunda metade do Século XVIII Escultura em madeira estofada e policromada. Pertence à igreja de Nossa Senhora da Conceição, Lombada, Ponta do Sol.

O mesmo acontece para a visita guiada intitulada ‘São Luís de Tolosa: iconografia e obra de um santo, através de duas esculturas’, que decorre entre as 15 e as 17 horas, nos dias 19 de Outubro e 20 de Novembro (Dia de Encerramento do Ano Jubilar da Misericórdia).
Mais uma vez, serão orientadores desta visita Martinho Mendes e Elisa Vasconcelos.

“Com enfoque na estatuária religiosa e do seu papel na arte sacra católica, esta visita orientada põe em evidência a iconografia e iconologia da representação de São Luís de Tolosa, assim como os aspectos técnicos de realização da escultura em madeira destas épocas, através de duas obras: uma escultura do século XVII, e outra do século XVIII, que é proveniente da igreja da Conceição, na Lombada da Ponta do Sol, trazida de empréstimo, enquanto obra em visita, para o programa de actividades em curso, permanecendo no museu pelo período de um mês na sala da escultura barroca. Com esta participação num programa nacional, o Museu de Arte Sacra e a Diocese do Funchal procuram enquadrar-se numa perspectiva cultural e pastoral mais ampla, com e pela qual se faz da arte e da cultura veículo de evangelização, contribuindo para a releitura consistente e integrada da iconografia que, ao longo dos séculos, foi objectivando a mensagem cristã para as nossas comunidades. A fé, como a cultura, podem e devem continuar a alimentar-se da contemplação da grande Beleza, que um notável património de identidade e cultura nos legou em herança comum”, defendem os estudiosos do Museu.

São Luís de Tolosa foi também conhecido por Luís de Anjou. Nasceu em 1274 e faleceu em 1297. A sua celebração ocorre a 19 de Agosto.

Foi príncipe, filho primogénito de Carlos II de Anjou, rei de Nápoles (sobrinho de São Luís Rei de França) e de Maria de Hungria (descendente da Rainha Santa Isabel de Hungria). Durante sete anos esteve refém de Afonso III de Aragão em Barcelona, onde esteve exposto a vários maus tratos e privações. Foi tratado e educado por Franciscanos. Em 1296 renunciou a sucessão real, em favor de seu irmão Roberto de Anjou, com vista a tornar-se monge franciscano em Roma. Foi consagrado bispo de Toulose, em França, contra a sua vontade, pelo Papa Bonifácio VIII.

Nesta escultura o Santo apresenta-se de pé e com gestualismo gracioso, caraterizado por uma certa torsão corporal. Assenta sobre uma base octogonal pintada, sugerindo mármore esverdeado. Junto aos pés, apresenta uma legenda com a inscrição “S. Luis B”, que remete de imediato para a iconografia do santo representado bispo.
Do realismo da anatomia à modelação do traje, com volumetrias acentuadas, toda a escultura é fortemente representativa do período barroco com certa influência italiana.
Surge trajado com as vestes pontificiais (mitra na cabeça, uma capa de asperges, estola, roquete e alva) de exuberante ornamentação composta de motivos vegetalistas, volutas e enrolamentos dourados, reforçados com sulcos e ponteados de grande pormenor que imitam o bordado a ouro. A mão esquerda do santo apresenta o báculo e a direita, com um anel no dedo, está levantada num gesto de bendição.
A escultura provém de uma das mísulas do retábulo da capela mor da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Lombada da Ponta do Sol, onde surge acompanhada, in situ, de outra escultura da época que representa São João Baptista. Ambas as esculturas são muito estimadas pelos paroquianos que lhe prestam culto. Saem em procissão anual no dia 24 de Junho, dia da celebração do nascimento de São João Baptista.

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